Estabelecendo um Lar Cristão

Nosso tema é estabelecer um lar cristão. Este tópico é bastante amplo; portanto, nós iremos focar nossa atenção em estabelecer uma família cristã escolhendo um marido ou esposa piedosos. A importância deste tópico não pode ser subestimada. Em grande parte o futuro tanto da igreja como da sociedade dependem do estabelecimento de famílias piedosas e dedicadas. Este estudo irá envolver um exame de uma série de ensinos na Escritura que estão diretamente relacionados ao estabelecimento de um lar da aliança. Nós iremos examinar as consequências espirituais do casamento misto com os pagãos tanto antes como depois da aliança mosaica, os ensinos da lei de Deus sobre o casamento misto, as razões por que o casamento misto é errado e perigoso, os meios de encontrar um parceiro piedoso, namoro bíblico e outros princípios de aplicação. Todos os materiais bíblicos bem como suas aplicações dizem respeito não somente aos crentes que estão buscando um esposo ou esposa, mas também a todos os pais da aliança que tem a responsabilidade de preparar seus filhos para o casamento e vigiar o processo do namoro.

Casamento Misto na era Pré-diluviana

No período que antecede a inundação mundial, o casamento misto entre crentes e descrentes é visto como o fator que mais contribuiu para a maldade do gênero humano e o juízo da inundação. Em Gênesis 6:1-8 lê-se: “E aconteceu que, como os homens se começaram a multiplicar sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas; viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne: porém os seus dias serão cento e vinte anos. Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens, e delas geraram filhos: estes eram os valentes que houve na antiguidade, os varões de fama. E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração. E disse o SENHOR: Destruirei, de sobre a face da terra, o homem que criei, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito. Noé porém achou graça aos olhos do SENHOR.”

Nesta narrativa os “filhos de Deus” refere-se à piedosa linhagem de Sete, enquanto que as “filhas dos homens” refere-se às mulheres da linhagem do ímpio Caim. Há várias coisas a se notar nesta porção da Escritura. Primeiro, perceba que os jovens de famílias crentes foram motivados não por questões espirituais, mas foram influenciados pela beleza das mulheres pagãs. Eles foram dirigidos pelos desejos e não pela revelação de Deus. Segundo, note a similaridade entre a apostasia dos “filhos de Deus” e a tentação narrada. Eles viram as mulheres belas e decidiram se apartar da Palavra de Deus. Quando Eva viu que a árvore era boa e agradável aos olhos, ela tomou e comeu o fruto.

Terceiro, note que esses casamentos anti-bíblicos resultaram na disseminação da apostasia. O contraste entre os seguidores de Deus e os perversos Cainitas foi perdido. Imediatamente após mencionar as relações conjugais entre a linhagem de Sete e a de Caim e os filhos que delas resultaram, nos é dito que eles produziram homens poderosos e varões de renome (i.e., homens de reputação; homens famosos). Dentro do contexto amplo de Gênesis 1-11 a designação “homens de reputação” é muito provavelmente negativa. Eles foram homens poderosos (em hebraico é freqüentemente usado para descrever soldados. vide 2Sm. 10:7; 16:6; 20:7; 23:8, 9, 16, 22; 1Re. 1:10, etc.), isto é, homens violentos que ganharam fama por seus propósitos mercenários. Após descrever esses famosos homens poderosos, a narrativa imediatamente volta à disseminação da maldade dos homens sobre a terra. Hamilton escreve: “Em virtude de sua localização, o incidente em 6:1-4 é obviamente como que uma introdução à narrativa do Dilúvio. Até este ponto a Escritura tem discutido os pecados de indivíduos: Adão, Eva, Caim, Lameque. Agora, pela primeira vez, a ênfase recai sobre os pecados de um grupo, ‘os filhos de Deus,’ e o resultado é que a punição de Deus é não diretamente contra um homem, mas contra a humanidade. Esta ênfase sobre os pecados de um grupo é perpetuada no evento do Dilúvio.”

Quarto, o casamento misto e a apostasia resultante conduzem à destruição da raça humana, com exceção de Noé e sua família. Mesmo antes de a lei ser dada, o sincretismo conduziu a integração entre morte e juízo. De fato, como podemos ver neste estudo, uma tática comum e altamente bem-sucedida de Satanás tem sido tentar e corromper os homens e mulheres da aliança através do sexo aposto. O diabo usou Eva para pegar Adão. Os Midianitas usaram as mulheres belas para seduzir os homens de Israel à fornicação e ao culto aos ídolos (Nm. 25:1-18).

O Período Patriarcal

Um estudo do temor a Deus nutrido pelos patriarcas revela uma atitude extremamente negativa para com o casamento misto com incrédulos. Os pais e mães não só ordenaram explicitamente seus filhos a não se casarem com os pagãos, eles também mostraram grande desgosto quando isso acontecia. Veja os seguintes exemplos.

Quando Abraão buscou uma noiva para Isaque ele mandou seu principal servo jurar por Deus não tomar uma esposa para Isaque de entre as filhas dos Cananitas (Gn. 24:2-3). Ao invés disso o servo viajou de todo jeito à terra original de Abraão (Padã-Arã) buscando a companheira certa para Isaque (Gn. 24:4ss.). Abraão estava muito alerta para a importância da continuidade e domínio da aliança. Seu filho não deveria se associar a uma família pagã através de um casamento misto não só porque isso teria consequências espirituais desastrosas para a família de Isaque, mas também porque os Cananitas estavam destinados a deserdar a terra. Isto é, nenhuma prosperidade futura e domínio para aqueles que rejeitam a Jeová. O fato de Abraão estar disposto a enviar seu servo em uma longa viagem para encontrar uma esposa piedosa deveria servir de exemplo para todos os pais cristãos. Abraão deu prioridade total à tarefa de encontrar uma boa esposa para seu filho.

Curiosamente, Esaú (do qual somos informados que não era um eleito de Deus, embora fosse filho de Isaque) não andou nos caminhos do seu pai Isaque mas casou-se com uma pagã da região. “Quando Esaú tinha quarenta anos de idade, tomou por esposa a Judite, filha de Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu. Ambas se tornaram amargura de espírito para Isaque e para Rebeca” (Gn. 26:34-35). Esta breve seção é posta na narrativa para enfatizar que Esaú não era merecedor de suceder a Isaque. Isto é uma forte evidência de que ele (no mínimo) era indiferente às convicções religiosas de seus pais. Ele obviamente não teve escrúpulos ao tomar esposas pagãs do povo cananita que ocupava a terra. A rebelião de Esaú contra Deus é manifesta nesta passagem de duas maneiras. Primeiro, ele se casou sem a supervisão, permissão e benção de seus pais crentes. Segundo, ele entrou num casamento misto com mulheres pagãs da região — os inimigos de Deus. As ações de Esaú foram um sinal de sua incredulidade e serviram para assegurar que sua posteridade não tinha compromisso algum com Jeová. Revelação subseqüente indica que os descendentes de Esaú foram os inimigos de Deus e do povo da Sua aliança.

Quando um filho ou filha se casa com um descrente isso causa grande aflição aos pais crentes. Em Gênesis 27:46 Rebeca lembrou a Isaque da dor e tensão que tinham sido causadas pelas esposas pagãs de Esaú. Ela então pintou um quadro da miséria total que tornaria sua vida insuportável se Jacó seguisse o exemplo de Esaú e se casasse com uma pagã. Esta lembrança fez Isaque dar uma ordem especial a Jacó, dizendo: “Não tomarás esposa dentre as filhas de Canaã. Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma lá por esposa uma das filhas de Labão, irmão de tua mãe” (Gn. 28:1-2).

Imediatamente depois desta ordem Isaque abençoou Jacó e confirmou a ele a aliança abraâmica. Isaque entendeu a relação entre casamento e crença, estabelecer uma descendência piedosa e a continuação das bênçãos da aliança através da história. A narrativa de Gênesis 27 e 28 não só revela a falta de fé de Esaú, que menosprezou seu direito de primogenitura. Ela também mostra como a falta de fé influencia na vida familiar. Jacó era fiel, obedeceu a seus pais e casou-se com uma crente. Esaú foi infiel e desconsiderou Deus ao casar-se com uma mulher pagã hetéia. Esaú foi uma figura muito trágica. Mesmo depois de entender o grande desgosto de seus pais com suas esposas pagãs, ele somente fez piorar as coisas casando-se com uma da rejeitada linhagem de Ismael (Gn. 28:9). Ele pensava que se casar com um descendente de Abraão iria agradar seu pai (Gn. 28:8). A questão, porém, não era simplesmente de raça ou genealogia, mas de fé. Não basta se casar com um filho ou neto de crentes. Os filhos dos crentes devem também ser crentes. Se não o são, estão cortados da aliança.

O Ensino da Lei de Deus sobre o Casamento Misto

A palavra da lei condena explicitamente o casamento misto com pagãos ou incrédulos. A questão do casamento misto é tão importante para evitar o sincretismo, idolatria e apostasia que o Senhor faz Sua vontade conhecida sobre esse assunto tanto na dádiva original da lei como na renovação da aliança em Deuteronômio e na mensagem de despedida de Josué, quando a aliança é mais uma vez renovada.

Em Êxodo 34:11-17 nós lemos: Guarda o que eu te ordeno hoje: eis que lançarei fora da sua presença os amorreus, os cananeus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Abstém-te de fazer aliança com os moradores da terra para onde vais, para que não te sejam por cilada. Mas cortareis os seus postes-ídolos (porque não adorarás outro deus; pois o nome do SENHOR é Zeloso; sim, Deus zeloso é ele); para que não faças aliança com os moradores da terra; não suceda que, em se prostituindo eles com os deuses e sacrificando, alguém te convide, e comas dos seus sacrifícios e tomes mulheres das suas filhas para os teus filhos, e suas filhas, prostituindo-se com seus deuses, façam que também os teus filhos se prostituam com seus deuses. Não farás para ti deuses fundidos.”

Em Deuteronômio é dada às crianças crescidas dentre aqueles que deixaram o Egito o mesmo alerta antes de entrar na terra prometida. Em seu sermão de renovação da aliança, Moisés diz: “Quando o SENHOR, teu Deus, te introduzir na terra a qual passais a possuir, e tiver lançado muitas nações de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os ferezeus, e os heveus, e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu; e o SENHOR, teu Deus, as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirá; não farás com elas aliança, nem terás piedade delas; nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a teus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós outros e depressa vos destruiria. Porém assim lhes fareis: derribareis os seus altares, quebrareis as suas colunas, cortareis os seus postes-ídolos e queimareis as suas imagens de escultura. Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhes fosses o seu povo próprio, de todos os povos da face da terra."

Após a terra da Palestina ter sido amplamente subjugada por Deus e já no fim de seu grande ministério, Josué fez uma aliança com Israel (vide Js. 24:25). Esta aliança é uma renovação da aliança mosaica anterior e assim tem muito em comum com Deuteronômio 7 (cf. especialmente os capítulos 31-33). O desafio de Josué a Israel diz: “Esforçai-vos, pois, muito para guardardes e cumprirdes tudo quanto está escrito no Livro da Lei de Moisés, para que dela não vos aparteis, nem para a direita nem para a esquerda; para que não vos mistureis com estas nações que restaram entre vós. Não façais menção dos nomes de seus deuses, nem por eles façais jurar, nem os sirvais, nem os adoreis. Mas ao SENHOR, vosso Deus, vos apegareis, como fizestes até ao dia de hoje; pois o SENHOR expulsou de diante de vós grandes e fortes nações; e, quanto a vós outros, ninguém vos resistiu até ao dia de hoje. Um só homem dentre vós perseguirá mil, pois o SENHOR, vosso Deus, é quem peleja por vós, como já vos prometeu. Portanto, empenhai-vos em guardar a vossa alma, para amardes o SENHOR, vosso Deus. Porque, se dele vos desviardes e vos apegardes ao restante destas nações ainda em vosso meio, e com elas vos aparentardes, e com elas vos misturardes, e elas convosco, sabei, certamente, que o SENHOR, vosso Deus, não expulsará mais estas nações de vossa presença, mas vos serão por laço e rede, e açoite às vossas ilhargas, e espinhos aos vossos olhos, até que pereçais nesta boa terra que vos deu o SENHOR, vosso Deus” (Js. 23:6-13).

As exortações com relação à aliança entre Jeová e Israel dizem respeito ou se centralizam todas em torno da fidelidade ao Senhor da aliança. Como o povo de Deus que está rodeado de nações, povos, sociedades e culturas pagãs faria para permanecer fiel a Jeová? O que o povo da aliança deve fazer para evitar os pecados de sincretismo e idolatria? Antes de levar em conta os mandamentos específicos para o povo da aliança não entrar em casamento misto com os pagãos, se faz necessário uma consideração das exortações que circundam o alerta de Deus (i.e., o contexto imediato). Os imperativos e alertas que são dados no contexto do mandamento contra o casamento misto estão tangencialmente relacionados a todos os outros mandamentos que são dados objetivando o mesmo fim. Este fim ou propósito é a fidelidade a Deus e à aliança através da história ou das gerações. Os filhos são parte da aliança e devem preservar a fidelidade à aliança de geração em geração. Note os seguintes alertas e imperativos que servem ao propósito central:

(1) Há uma exortação para amar e se apegar ao Senhor (Js. 23:8, 11; cf. Dt. 4:4; 10:20; 11:22; 13:4; Js. 22:5, etc.). A palavra “apego” em hebraico (dabaq) é usada na Bíblia para descrever o relacionamento entre marido e esposa (e.g., Gn. 2:24). O uso dessa linguagem matrimonial é deliberado. Em Êxodo 34:14 o povo é inclusive lembrado de que Jeová é um Deus ciumento. A linguagem da aliança é um lembrete de que Jeová resgatou Israel e estabeleceu uma relação amorosa e pessoal entre Ele mesmo e o Seu povo. O povo se deleita nEle, depende dEle, e continuamente se devota à glória dEle. Eles o servem com cada fibra de seu ser. As motivações na Escritura para obedecer, ser fiel, a Deus são positivas e negativas. Nossa fidelidade a Deus deve residir em nosso amor por Ele. As ameaças de castigo devem ser nossa preocupação secundária. A igreja expressa seu amor e confia em Deus pela obediência aos Seus mandamentos (vide Ex. 34:11; Js. 23:6, 8, 11; 1Jo. 2:3-5; cf. Dt. 31-32).

(2) O povo da aliança é ordenado a destruir totalmente as nações pagãs (Ex. 34:13; Dt. 7:1-2; Js. 23:9-10). A melhor defesa contra a apostasia e a idolatria é uma ofensiva sólida. Estagnação, sujeição e indiferença são inimigos da santificação pessoal e corporativa. Obviamente, se o povo da aliança está ocupado em exterminar os inimigos de Deus, eles não irão se tornar amigos deles ou comprometer-se com sua visão de mundo pagã. Por exemplo, um cristão que na presença de incrédulos discute sobre as coisas de Deus (e.g., a lei; o evangelho; a cosmovisão cristã) ou irá ver conversões a Cristo ou será ignorado.

A ordem para destruir as sete nações cananitas pela força física tipifica a Grande Comissão na Nova Aliança. A igreja trabalha agressivamente pela extinção de todas as falsas religiões e idolatria através de toda a terra discipulando as nações pela pregação do evangelho (Mt. 16:15ss.), ensinando-as as ordenanças de Jesus (Mt. 28:20) e batizando-as. A Bíblia enfatiza que a propagação do reino de Deus na terra de Canaã e em toda a terra é operada pelo poder de Jeová (Ex. 34:11; Dt. 7:1-2; Js. 23:9; Mt. 28:20; Jo. 16:13ss.; At. 2).

Quando a lei de Deus descreve a responsabilidade de destruir as sete nações pagãs há uma ênfase sobre destruir seus deuses, altares, colunas, postes-ídolos e locais sagrados. Todos os monumentos à idolatria e toda a parafernália do falso culto devem ser completamente retiradas a fim de remover todas as tentações para o sincretismo e a idolatria. Os alertas contra a parafernália religiosa e o casamento misto servem ao propósito de preservar lealdade a Jeová, fidelidade à aliança e a santidade do povo da aliança de forma geracional. Obediência aos mandamentos de Deus assegura as bênçãos da aliança e a expansão do reino de Deus. A sabedoria e a verdade da lei de Deus neste assunto é demonstrada pelo fato histórico de que o sincretismo e a apostasia dos cristãos tem prejudicado a igreja e a sociedade muito mais do que as perseguições, necessidades, pestilências e coisas do tipo.

(3) Há uma alerta para não fazer uma aliança com as nações pagãs (Ex. 34:12, 15; Dt. 7:2). Qualquer tratado ou aliança com uma nação pagã é um ato de infidelidade a Deus que tem ordenado a aniquilação total dos habitantes de Canaã. Esta ordem se aplica a qualquer tipo de acordo, seja político, religioso ou marital. Jeová não tornou conhecido o conceito de esferas neutras entre crentes e pagãos. A Bíblia condena o ponto de vista que afirma que o povo de Deus pode co-operar sob algum tipo de guarda-chuva secular, humanístico ou ecumênico. No mundo antigo política, religião e casamento estavam explicitamente relacionados ou entrelaçados. Assim, acordos entre diferentes nações e tribos com deuses ou religiões conflitantes era frequentemente assegurado pelo casamento misto das classes reais. Esses casamentos sincretistas poderiam ser seguidos pela inclusão de novos deuses estrangeiros dentro de uma terra. O povo nativo da terra seguiria o exemplo dos líderes e participaria nas novas práticas de culto. Os dois sistemas religiosos eventualmente se fundiam em uma nova religião sincretista que não é realmente fiel a nenhuma das visões de mundo anteriores. Esse pragmatismo político na área de acordos e casamentos mistos é o resultado de líderes políticos brincando de deus na área da ética e da doutrina.

(4) A razão para o mandamento proibir os acordos e o casamento misto com os pagãos e ordenar a total destruição deles e de seus deus é assegurar a santidade do povo da aliança (Dt. 7:6). Em Êxodo Israel é designado “um reino de sacerdotes e um povo santo” (Ex. 19:5-6). Salvação traz responsabilidade. O povo da aliança tem sido separado, santificado ou reservado dos outros povos para servir ao Senhor. O povo de Deus não deve imitar ou se comportar de forma semelhante aos pagãos, mas, ao invés disto, deve obedecer à lei da aliança de Deus como um exemplo para outras nações (Dt. 4:6ss.). Os crentes devem andar de acordo com o seu chamado. “Os israelitas eram um povo santo em razão de sua relação com Deus, que os separou, ou os pôs à parte (aparentemente o sentido original da raiz qds, ‘santo’), de outros povos e práticas. Seu caráter santo não indica mérito próprio, mas, ao invés disto, escolha divina.”

A ideia da salvação e a responsabilidade para ser santo; da comunhão e união com Deus através da aliança e a necessidade de separação daquilo que é mal ou impuro percorre tanto o Antigo como o Novo Testamento. Em meio a uma passagem clássica sobre justificação somente pela fé e a lembrança de que Deus salvou e separou os efésios do paganismo grosseiro, Paulo escreve: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef. 2:10). Após discutir a bendita união entre Deus e Seu povo (2Co. 6:16; cf. Lv. 26:11, 12; Ez. 27:27) Paulo argumenta que essa união tem como consequência lógica a separação ou santificação. “Portanto, ‘Retirai-vos de entre eles e separai-vos’, diz o Senhor. ‘Não toqueis em coisa impura, e eu vos receberei’” (2Co. 6:17). Alguns crentes de Corinto estavam mantendo estreitos laços com os incrédulos à sua volta e, como consequência, estavam participando nas práticas pagãs (banquetes pagãos idólatras, prostituição cúltica, fornicação, etc.). Para contornar esse comportamento pecaminoso Paulo argumenta que Cristo e Satanás — bem e mal — nada têm em comum. Ele também apela à lei e ao chamado à separação dado pelos profetas. Os cristãos devem guiar a cultura. Eles devem submeter tudo ao padrão ético de Deus e nunca, jamais seguir a cultura ou as práticas pagãs.

Por que o Casamento Misto é Errado e Perigoso

Os mandamentos contra o casamento misto com os pagãos (Ex. 34:16; Dt. 7:3; Js. 23:12) são seguidos por argumentos do por quê o povo da aliança deveria evitar tal prática. A razão primária é que o casamento misto coloca o crente às portas da idolatria (Ex. 34:16-17; Dt. 7:4).

O casamento misto com um pagão resulta numa incrível tentação para comprometer a fé de muitas maneiras a fim de agradar ao cônjuge. Salomão é o maior exemplo de uma pessoa que pecou para agradar suas esposas. “Ora, além da filha de Faraó, amou Salomão muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, mulheres das nações de que havia o SENHOR dito aos filhos de Israel: Não caseis com elas, nem casem elas convosco, pois vos perverteriam o coração, para seguirdes os seus deuses. A estas se apegou Salomão pelo amor. Tinha setecentas mulheres, princesas e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era de todo fiel para com o SENHOR, seu Deus, como fora o de Davi, seu pai. Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios, e a Milcon, abominação dos amonitas. Assim, fez Salomão o que era mau perante o SENHOR e não perseverou em seguir ao SENHOR, como Davi, seu pai. Nesse tempo, edificou Salomão um santuário a Quemos, abominação de Moabe, sobre o monte fronteiro a Jerusalém, e a Moloque, abominação dos filhos de Amom. Assim fez para com todas as suas mulheres estrangeiras, as quais queimavam incenso e sacrificavam a seus deuses.” (1 Re. 11:1-8). Salomão amou suas esposas e quis agradá-las e mantê-las felizes construindo templos para os seus deuses. As mulheres estrangeiras tinham pervertido seu coração para seguir outros deuses. O grande período de declínio que conduziu Israel à destruição não começou com Jeroboão, o filho de Nebate, mas com Salomão. O acordo sincretista na vida familiar de Salomão conduziu à queda de uma nação inteira.

Quando Neemias reprovou os judeus que tinham se casado com mulheres de Asdode, Amom e Moabe, ele os relembrou da iniquidade de Salomão: “Contendi com eles, e os amaldiçoei, e espanquei alguns deles, e lhes arranquei os cabelos, e os conjurei por Deus, dizendo: Não dareis mais vossas filhas a seus filhos e não tomareis mais suas filhas, nem para vossos filhos nem para vós mesmos. Não pecou nisto Salomão, rei de Israel? Todavia, entre muitas nações não havia rei semelhante a ele, e ele era amado do seu Deus, e Deus o constituiu rei sobre todo o Israel. Não obstante isso, as mulheres estrangeiras o fizeram cair no pecado. Daríamos nós ouvidos, para fazermos todo este grande mal, prevaricando contra o nosso Deus, casando com mulheres estrangeiras?” (Ne. 13:25-27). Após amaldiçoar os israelitas (i.e., num sentido religioso, da aliança) Neemias fala àqueles homens empedernidos que se até mesmo Salomão (o mais sábio e o mais abençoado dos reis em seus dias) pôde ser levado a pecar por suas esposas pagãs, como você seria capaz de resistir a essa tentação?

Todas estas informações a respeito do casamento misto na Bíblia levantam a questão: Por que o casamento misto é tão perigoso à vida espiritual de uma família? Há várias razões por que o casamento misto é uma armadilha do diabo:

(1) Um cristão que se casa com um incrédulo está entrando em aliança com uma pessoa cuja visão de mundo e de vida lhe é oposta. Uma união desse tipo faz surgir algumas questões importantes: É possível ser edificado um sólido fundamento espiritual de uma casa misturando-se barro ao ferro? É possível ser mantida uma unidade de propósitos quando não há uma unidade de crenças? É possível uma casa servir a dois senhores? Paulo lida com este assunto em 2 Coríntios 6:14-16. Ele escreve: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: ‘Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.’” O apóstolo amarra sua exortação por meio de uma série de perguntas que revelam a natureza desarmônica, inconsistente, e absurda de um tal relacionamento. Hodge escreve: “É dito que as partes estão em comunhão quando estão tão unidas que o que pertence a um pertence a outra, ou quando o que é verdadeiro de uma é verdadeiro de outra. Os crentes estão em comunhão, ou têm comunhão uns com os outros, quando se reconhecem como tendo um interesse em comum nos benefícios da redenção, e estão conscientes de que a experiência interna de um é a mesma do outro. Elementos incongruentes não podem ser assim unidos, e qualquer tentativa de combiná-los deve destruir o caráter de um ou do outro.”

Uma vez que bem e mal, justiça e injustiça, luz e trevas, Cristo e Belial, não podem coexistir ou viver em harmonia, qual é o resultado comum de tais uniões? Invariavelmente, tais uniões acabam por produzir alguma forma de sincretismo. Sincretismo é “a tentativa de reconciliação ou união de diferentes princípios, práticas, ou partes opostas, como uma filosofia ou religião.”4 Quando duas visões de mundo opostas existem sob o mesmo teto, compromissos não-bíblicos são feitos para manter a paz ou no mínimo a aparência exterior de paz. Cristãos professos que estão casados com esposas ou maridos pagãos freqüentemente comprometem matérias espirituais cruciais tais como: devoções familiares, fiel freqüência à igreja, o que é aceitável para se assistir na tv e em filmes, sobre quanto dinheiro gastar, sobre monumentos à idolatra (e.g., Dia das Bruxas, Natal, Páscoa), sobre como criar as crianças (e.g., disciplina, ética, escola, etc.), a observância do dia de Descanso e a comunhão com outros crentes (cônjuges pagãos têm iníquos amigos pagãos e obviamente não gostam muito de discutir teologia, educação em casa e Bíblia). De fato, cada área da vida se torna uma luta contra a visão de mundo dos maridos ou esposas porque nas áreas filosóficas que dizem respeito às preocupações últimas (epistemologia, ética, salvação, ontologia) não há uma base fundamental de acordo.

Em tais famílias os assuntos importantes na vida são empurrados para debaixo do tapete e substituídos com conversas e propósitos triviais, vãos e mundanos. Em outras palavras, já que o marido e a esposa não podem concordar sobre a adoração a Deus, eles concordarão em torcer pela seleção brasileira ou em ir à praia juntos. Mas o que acontece em uma casa quando as coisas mais importantes na vida são ignoradas ou atenuadas? O resultado é que Cristo não é glorificado e a verdadeira religião da aliança não é efetivamente transmitida às crianças daquela casa. A tentativa de viver em paz com um pagão resulta numa forma explícita ou, no mínimo, implícita de neutralidade funcional. Essa tentativa é uma falha em reconhecer e viver em termos da radical antítese entre o povo de Deus e os pagãos. Quando as pessoas que professam a Cristo falham em colocá-lO acima de todas as coisas e viver em termos do chamado de Deus em suas vidas, eles destroem seu próprio futuro porque não podem efetivamente repassar a fé aos seus filhos. Casamento misto, sincretismo, idolatria e morte da aliança andam de mãos dadas.

Dada esta sóbria realidade, não é de admirar que se encontre alertas contra o casamento misto ao longo da Bíblia. Deus deixou muito claro que odeia o casamento misto e todo comportamento sincretista. Deus identifica a Si mesmo como o único Deus verdadeiro, como um Deus zeloso (Ex. 20:5) que odeia o compromisso com ídolos. A religião de um lar não pode jamais se comprometer com ídolos ao fazer paz com idólatras sem terríveis consequências.

(2) Um crente que se casa com um pagão põe a si mesmo e a seus filhos na comunhão e presença contínua de um exemplo corrompido. Paulo alerta os Coríntios que “as más companhias corrompem a boa moral” (1 Co. 15:33 NASB). Pode haver maior força corruptora sobre um esposo cristão e as crianças da aliança do
que ter sob o mesmo teto um cônjuge ou pai incrédulo que nega a Cristo? Thomas Manton escreve: “Muitas vezes, por escolha carnal, todo o bem destinado a uma família é desperdiçado, e, sem ninguém se dar conta, a religião é jogada ao vento: Sl.106:35: ‘Eles se misturaram com os pagãos, e aprenderam as suas obras;’ Ne. 13:25,26: ‘Contendi com eles, e os conjurei por Deus que não dariam suas filhas aos filhos deles, nem tomariam as filhas deles para seus filhos;’ 2 Re. 8:18: ‘Ele andou em todos os caminhos dos reis de Israel; pois a filha da Acabe era sua mulher.’ Valente, o imperador5, casou-se com uma senhorita ariana, e assim foi instigado a tornar-se um perseguidor da ortodoxia. A esposa do íntimo tem grandes vantagens, seja para perverter, seja para converter o coração do homem a Deus; ou então, se eles não podem prevalecer por muito tempo, que dissonância e conflitos há em uma família quando as pessoas estão sob jugo desigual, a esposa e o marido rumando cada um para um lado!”

Qualquer um sabe que maridos e esposas frequentemente aprendem um com o outro padrões de vida, sejam bons ou doentios. E, as crianças têm uma tendência natural para imitar o comportamento de seus pais. Uma criança da aliança que presencia continuamente um pai pagão amaldiçoar, mentir, cultuar o entretenimento, profanar o dia de Descanso, ler literatura pervertida, etc. irá, no mínimo, ter momentos muito mais difíceis com a santificação e, na pior das hipóteses, irá seguir o pai incrédulo no paganismo e na idolatria.

Além disso, os pais cristãos têm a responsabilidade não só de serem um exemplo para seus filhos sobre como deve ser um casamento piedoso; eles devem também mostrar a eles como um casamento cristão (embora sempre imperfeito) espelha a relação entre Cristo e a igreja. Se as crianças da aliança têm um pai irresponsável e ímpio ou uma mãe mundana e rebelde, lhes foi negado o privilégio de um verdadeiro lar cristão piedoso. Esta falta de um exemplo apropriado pode ter consequências negativas para o resto da vida.

Perceba também que mesmo quando uma esposa ou marido incrédulo está disposto a cooperar até certo ponto com um cônjuge cristão, comparecendo à igreja e participando de vários exercícios religiosos, tal comportamento em essência é um exemplo de hipocrisia grosseira para as crianças. As crianças, que estudam seus pais melhor do que qualquer outra pessoa, sabem que sua mãe ou pai pagão realmente não se importa com as coisas de Deus. Assim as crianças realmente não têm um bom exemplo, mas ao invés disto têm o modelo de um Fariseu. Essas crianças são implicitamente ensinadas que participar formalmente é o bastante, que os rituais externos são a essência da religião. Esta é uma razão por que os filhos destas uniões ímpias, sincretistas, rejeitam com tanta freqüência a Jeová e a aliança em favor das luxúrias da carne e da soberba da vida.

(3) Um cristão que se casa com um incrédulo faz com que seja virtualmente impossível ser fiel ao principal mandato da Bíblia com relação à criação dos filhos, que é fazer Deus e a Sua palavra-lei centrais em tudo na vida e educação da criança. Pode uma criança ser diligente e continuamente (i.e., pela manhã até à noite; cf. Dt. 6:19) ensinada a amar a Deus e a obedecer a Sua palavra quando um dos pais simplesmente não se importa com Deus ou com a Bíblia? É evidente que instrução bíblica não pode ser integrada a todas as áreas da vida quando um dos pais ignora Deus e vive para os prazeres e para si mesmo.

Além do que, há um conflito inevitável sobre como as crianças serão educadas e como as crianças irão ser disciplinadas. Essa é uma outra área onde comprometimento e hipocrisia são inaceitáveis. Pode um marido ou esposa crente esperar que seu cônjuge pagão simplesmente dê e permita que seja dada uma forma explícita de educação e disciplina cristã quando um cônjuge incrédulo tem ódio e uma aversão natural pelas coisas de Deus? Tal situação é especialmente má para mulheres cristãs que estão casadas com maridos incrédulos. Tais mulheres não estão em posição de reivindicar uma autoridade dada por Deus sobre os homens. Um homem cristão pode pelo menos ordenar que a sua esposa incrédula lhe seja submissa nessa área. Se ela não gostar, pode ir embora. Uma esposa cristã pode respeitavelmente discordar de seu marido e mesmo desobedecê-lo de forma legítima quando ele lhe pede para pecar ou ir contra a Escritura. Mas, se ele está determinado a colocar seus filhos em uma satânica escola estadual, o que a esposa pode fazer para deter essa atrocidade moral?


Fonte: Monergismo
Autor: Brian Schwertley