Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. 19 Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. 20 Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea. 21 Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. 22 E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. 23 E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. 24 Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. 25 Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam.
Entre a nossa série de sermões mais substanciais, estou começando um estudo de algumas matérias que me parecem urgentes. Casamento é sempre urgente. Nunca houve uma geração cuja visão de casamento foi alta o suficiente. O hiato entre a visão bíblica do casamento e a visão humana é, e tem sempre sido, colossal. Algumas culturas na história respeitam a importância e a permanência do casamento mais do que outras. Algumas, como a nossa, têm atitudes tão baixais e casuais, do tipo "pegar ou largar", em relação ao casamento que fazem a visão bíblica parecer ridícula para a maioria das pessoas.
A Visão de Jesus sobre o Casamento
Este também era o caso nos dias de Jesus, e nos nossos é imensamente pior. Quando Jesus deu um vislumbre da visão magnífica de casamento que Deus quis para o seu povo, os discípulos disseram a ele: "Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar." (Mateus 19:10). Em outras palavras, a visão de Cristo do significado do casamento foi tão enormemente diferente da visão dos discípulos, que eles nem conseguiram imaginá-la como boa. Que tal visão pudesse ser boas novas estava simplesmente fora de cogitação.
Se este foi o caso do sóbrio mundo judaico em que eles viviam, quão mais ininteligível parecerá a grandeza do casamento na mente de Deus para o mundo em que vivemos, onde o principal ídolo é o ego e a principal doutrina é a autonomia, e o ato central de adoração é o entretenimento, e os santuários são a televisão e o cinema, e a mais sagrada reverência é o desinibido ato da relação sexual. Essa cultura pensará a glória do casamento na mente de Jesus praticamente ininteligível. Jesus muito provavelmente nos diria hoje, depois de já ter revelado o mistério para nós, a mesma coisa que disse naquele dia: "Nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado. ... Quem é apto para o admitir admita." (Mateus 19:11-12)
A Visão Bíblica do Casamento
Então eu começo com o pressuposto de que nosso pecado, egoísmo e prisão cultural fazem com que seja quase impossível perceber a maravilha dos propósitos de Deus para o casamento entre um homem e uma mulher. O fato de que nós vivemos em uma sociedade que pode até conceber— quanto mais defender — dois homens ou duas mulheres entrando num relacionamento e com inconceptibilidade selvagem chamam isso de casamento nos mostra que o colapso de nossa cultura na devassidão, barbarismo e anarquia está, provavelmente, não muito distante.
Menciono tudo isso na esperança de que te despertes para considerar uma visão do casamento mais elevada, mais profunda e forte, e mais gloriosa do que qualquer coisa que essa cultura — ou talvez você mesmo — já imaginou. A grandeza e a glória do casamento estão além da nossa habilidade de pensar ou sentir sem a revelação divina e sem a obra iluminadora e despertadora do Espírito Santo. O mundo não consegue saber o que é o casamento sem aprender isso de Deus. O homem natural não tem capacidade de ver ou receber ou sentir a maravilha do que Deus projetou o casamento para ser. Eu oro para que essa mensagem seja usada por Deus para te ajudar a se libertar das visões de casamento que são pequenas, mundanas, contaminadas, centradas no homem, que ignoram Cristo, que negligenciam Deus, que são intoxicadas de romance e não tem base bíblica.
Casamento É a Vitrine de Deus
A afirmação mais fundamental da Bíblia sobre o casamento é que ele é obra de Deus. E a afirmação mais derradeira da Bíblia sobre casamento é que ele é para a glória de Deus. Esses são os dois pontos que tenho para abordar. Mais fundamentalmente, casamento é o agir de Deus. Mais derradeiramente, casamento é a vitrine de Deus. Vamos permitir que a Bíblia imprima essas ideias em nós uma de cada vez.
1. Casamento É Obra De Deus
Primeiro, mais fundamentalmente, casamento é obra de Deus. No mínimo quatro formas de ver isto explicita ou implicitamente estão aqui no nosso texto.
a) O casamento Foi Projetado por Deus
Casamento é obra de Deus porque foi o projeto dele na criação do ser humano como homem e mulher. Com certeza, isso ficou claro antes em Gênesis 1:27-28: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. "
Mas isso também está claro no fluxo de pensamento em Gênesis 2:18-25. No verso 18, é Deus, e não o homem, quem decreta que a solidão do homem não é boa, e é Deus mesmo quem se dispõe a completar um dos projetos centrais da criação, a saber, homem e mulher no casamento. "Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea." Não esqueça aquela afirmação central e totalmente importante: Deus mesmo vai fazer um ser perfeitamente idôneo para o homem - uma esposa.
Então, Deus exibe os animais diante dele de tal modo que ele veja que não há outra criatura que se qualifique. Essa criatura deve ser feita unicamente do homem de maneira que ela será de sua essência assim como o homem criado à imagem de Deus como Gênesis 1:27 diz. Assim, lemos nos versos 21-22: "Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe." Deus a criou.
Este texto termina nos versos 24-25 com as palavras: "Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam." Em outras palavras, está tudo se movendo no sentido do casamento. Então, a primeira coisa a dizer sobre o casamento ser obra de Deus é que casamento foi um projeto dele em criar o ser humano homem e mulher.
b) Deus Deu a Primeira Noiva Em Casamento
Casamento é obra de Deus porque ele pessoalmente teve a honra de ser o primeiro Pai a dar a noiva em casamento. Gênesis 2:22: "E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe." Ele não a escondeu para deixar Adão procurar. Ele a criou; e então a trouxe. Num profundo sentido, ele a havia gerado. E agora, embora ela fosse sua em virtude da criação, ele a dá para o homem neste absolutamente novo tipo de relacionamento chamado casamento, diferente de qualquer outro relacionamento no mundo.
c) Deus Com sua Palavra Trouxe À Existência o Projeto do Casamento
Casamento é obra de Deus porque Deus não apenas criou a mulher com este propósito e a levou ao homem assim como um Pai a sua filha ao seu marido, mas também porque Deus com sua palavra trouxe à existência o projeto do casamento. Ele fez isso no verso 24: "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne." Quem está falando no verso 24? O escritor de Gênesis está falando. E o que Jesus acreditou a respeito do escritor de Gênesis? Ele acreditou que era Moisés (Lucas 24:44) e que Moisés foi inspirado por Deus a ponto de que o que Moisés disse, Deus disse. Ouça cuidadosamente Mateus 19:4-5: "Então, respondeu ele [Jesus]: Não tendes lido que o Criador [Deus], desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse [Nota: Deusdisse!]: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?" Jesus disse que Gênesis 2:24 é a palavra de Deus. Portanto, casamento é obra de Deus porque ele chamou à existência o desenho original desse projeto — "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne."
d) Deus Realiza A União De Uma Só Carne
O que nos leva a quarta forma do casamento ser obra de Deus. Tornar-se uma só carne, que está no coração do que o casamento é, é uma união que Deus realiza.
O verso 24 são as palavras divinas da instituição do casamento. Mas assim como foi Deus que tomou a mulher da carne do homem (Gênesis 2:21), é Deus quem em cada casamento ordena e realiza uma união chamada uma só carne, que não está ao alcance do homem destruir. Isso está implícito em Gênesis 2:24, mas Jesus deixa isso explícito em Marcos 10:8-9. Ele cita Gênesis 2:24, e então adiciona um comentário que explode como trovão com a glória do casamento. "...serão os dois uma só carne. De modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem. "
Quando um casal fala seus votos e consuma seus votos com união sexual, não é o homem ou a mulher ou o pastor ou os pais que são os atores principais. Deus é. Deus junta um marido e uma esposa em uma união de uma só carne. Deus faz isso. Deus faz isso! O mundo não sabe disso. Essa é uma das razões principais pelas quais o casamento é tratado tão casualmente. E cristãos, muitas vezes, agem como se não soubessem disso, o que é uma das razões para o casamento na igreja não ser visto como a maravilha que é. Casamento é o obra de Deus porque é uma união de uma só carne que Deus mesmo realiza.
Então, resumidamente, a coisa mais fundamental que nós podemos dizer sobre casamento é que ele é obra de Deus. Foi Sua obra:
- porque foi projeto dele na criação;
- porque ele pessoalmente deu a primeira noiva em casamento;
- porque ele trouxe à existência o projeto de casamento: deixe seus pais, apegue-se a sua mulher, torne-se uma só carne;
- e porque esta união de uma só carne é estabelecida por Deus mesmo em cada casamento.
Um vislumbre no esplendor do casamento vem de observar na palavra de Deus que Deus mesmo é o grande executor. Casamento é obra dele. É dele e por meio dele. Essa é a coisa mais fundamental que podemos dizer sobre casamento. E agora vamos ver que é para ele.
2. Casamento É Para a Glória de Deus
A derradeira afirmação da Bíblia sobre o casamento é que ele existe para a glória de Deus. Mais fundamentalmente, casamento é obra de Deus. Mais derradeiramente, casamento é a vitrine de Deus. É projetado por Deus para expor sua glória de um modo que nenhum outro evento ou instituição é.
O jeito mais claro de ver isto é conectando Gênesis 2:24 com o seu uso em Efésios 5:31-32. Em Gênesis, Deus disse: "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne." Que tipo de relacionamento é esse? Como duas pessoas são mantidas juntas? Elas podem deixar este relacionamento? Elas podem ir de cônjuge em cônjuge ? É esse relacionamento baseado no romance? Desejo sexual? Necessidade de companhia? Conveniência cultural? O que é isso? O que o mantém?
O Mistério Do Casamento Revelado
As palavras "se une à sua mulher" e as palavras "tornando-se uma só carne" apontam para algo muito mais profundo e permanente do que casamentos em série e adultério ocasional. O que essas palavras apontam é para o casamento como uma aliança sagrada baseada nos compromissos de aliança que resistem cada tormenta "até que a morte os separe". Mas só está implícito aqui. Isso se torna explícito quando o mistério do casamento é mais plenamente revelado em Efésios 5:31-32.
Paulo cita Gênesis 2:24 no verso 31: "Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne." E então ele dá a isso sua extremamente importante interpretação no verso 32: "Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja.". Em outras palavras, casamento segue o padrão de compromisso de aliança de Cristo para com sua igreja. Cristo se imaginou como noivo vindo para sua esposa. (Mateus 9:15; 25:1; João 3:29). Paulo sabia que seu ministério era reunir a Noiva — o verdadeiro povo de Deus que confiaria em Cristo — e nos entregar em casamento a Ele. Ele diz em 2 Coríntios 11:2: "Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo."
Cristo sabia que ele teria que pagar o dote do seu próprio sangue por sua noiva redimida. Ele chamou este relacionamento de nova aliança — "Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós." (Lucas 22:20). Isso é o que Paulo está se referindo quando ele diz que casamento é um grande mistério: "eu me refiro a Cristo e à igreja". Cristo obteve a igreja pelo seu sangue e formou uma nova aliança com ela, um inquebrável "casamento".
A afirmação mais derradeira sobre casamento que podemos fazer é que ele existe para a glória de Deus. Isto é, ele existe para expor Deus. Agora podemos ver como: o casamento segue o padrão do relacionamento de compromisso de Cristo com a igreja. Portanto, o significado mais elevado e o propósito mais final do casamento é colocar o relacionamento de compromisso de Cristo e sua igreja em exposição. É por isso que casamento existe. Se você está casado, esse é o motivo de você estar casado.
Cristo Nunca Vai Abandonar Sua Esposa
Continuar casado, portanto, não se baseia em continuar apaixonado. Tem a ver com manter uma aliança. "Até que a morte nos separe" ou "enquanto vivermos" é promessa de aliança sagrada — o mesmo tipo que Jesus fez com sua Noiva quando morreu por ela. Portanto, o que faz divórcio e novo casamento tão abominável aos olhos de Deus não é apenas que isso envolve quebra de aliança com o cônjuge, mas isso envolve representar mal a Cristo e sua aliança. Cristo nunca vai abandonar sua esposa. Nunca. Pode haver tempos de distância dolorosa da nossa parte. Mas Cristo mantém sua aliança para sempre. Casamento é mostrar isso! É o que podemos dizer de mais derradeiro sobre o casamento.
Tenho muito mais a dizer nessa hora. Então, decidi manter-me neste tópico semana que vem. Isto é o que abordaremos, se Deus quiser. Gênesis 2:25 diz: "Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam." Por que a história bíblica da fundação do casamento termina naquela nota logo antes da queda? A resposta vai nos levar, penso eu, a alguns conselhos práticos que eu oro para que nos ajudem em nossos casamentos a cumprir os grandes propósitos que Deus tem para nós.
Por hora, você oraria comigo para que Deus troque na igreja e em nossa terra compromissos que exaltam o ego, destruidores de casamentos e sem base bíblica, a fim de suprir nossos desejos emocionais com compromissos que exaltam a Cristo, honram o casamento e têm base bíblica para manter nossas alianças?
Casamento e o Evangelho
O casamento é mais maravilhoso do que todo mundo pensa. E as razões pelas quais ele é maravilhoso só podem ser aprendidas por revelação especial de Deus e só podem ser apreciadas pela obra do Espírito Santo em nos possibilitar ver e abraçar esta maravilha. O motivo de precisarmos da ajuda do Espírito é que a maravilha do casamento é entretecida no evangelho da cruz de Cristo, e a mensagem da cruz é tolice para o homem natural, e, então, o sentido do casamento é tolice para o homem natural (1 Coríntios 2:14). Por exemplo, o ateísta Richard Dawkins disse no último outono,
Eu dou... argumentos convincentes contra um designer inteligente sobrenatural. Mas isso me parece um ideia digna. Refutável — mas grande e formidável o suficiente para ser digna de respeito. Eu não vejo deuses olímpicos ou Jesus descendo e morrendo na cruz como dignos dessa grandeza. Eles me dão a impressão de ser provincianos.
Essas são as palavras trágicas do "homem natural". Aqueles que consideram Cristo e sua incarnação, morte, ressurreição e senhorio sobre todo o universo mantendo-o com a palavra de seu poder (Hebreus 1:3; Colossenses 1:16-17), como provinciano não verão a maravilha do casamento composta no evangelho. Mas, pela graça você talvez veja. Eu oro para que veja. Eu acredito que Deus vai revelar isso para ti se você olhar fielmente para a revelação disso na palavra de Deus e buscar ajuda do Espírito Santo para te possibilitar ver e saborear a glória de Deus e sua aliança comprada no sangue com a igreja, a qual é refletida no casamento.
Casamento É Obra De Deus Para A Glória de Deus
Semana passada, vimos que a afirmação mais fundamental que podemos fazer sobre o casamento é que ele é obra de Deus. E a afirmação mais derradeira que podemos fazer sobre o casamento é que ele é a vitrine de Deus. A razão de ser a vitrine de Deus é que, em Cristo, Deus fez uma nova aliança com seu povo. Nela, ele promete perdoar, justificar e glorificar todos que se arrependerem do pecado e receberem Cristo como Salvador, Senhor e supremo Tesouro de suas vidas. O casamento entre um homem e uma mulher foi projetado desde o começo para ser o reflexo e exposição desse relacionamento de aliança.
Esse é o motivo de Paulo citar Gênesis 2:24 — "Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne" — e então dizer:"Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja." (Efésios 5:31-32). Deixar os pais e unir-se a uma esposa, formando uma nova união de uma só carne, foi designado desde o início para expor essa nova aliança — Cristo deixando seu Pai e levando a igreja como noiva, ao custo de sua própria vida, e unindo-se a ela em uma união de um só Espírito para sempre (1 Coríntios 6:17).
Então, eu concluí que continuar casado não se baseia em continuar apaixonado. Tem a ver com manter uma aliança. Se um cônjuge se apaixona por outra pessoa, uma resposta profundamente legítima do cônjuge afligido e da igreja é: "E daí? Mantenha a sua aliança." Agora é hora de investigar mais profundamente o que a manutenção da aliança é e o que ela significa.
Nus e Não se Envergonhavam
Para nos ajudar, e assentar uma fundação mais ampla, vamos ao verso no nosso texto que não comentamos semana passada. Gênesis 2:25: "Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam." Qual é o foco nesse verso? Considere estas duas razões possíveis pelas quais eles não estavam envergonhados. Primeiro, é a razão de que ambos tinham corpos perfeitos. Então, uma vez que a aparência era perfeita, eles não tinham medo algum de que o seu cônjuge iria desaprová-la. Em outras palavras, sua liberdade da vergonha era porque eles não tinham absolutamente nada para se envergonhar. Era esse o ponto principal?
Certamente é uma observação verdadeira. Quando Deus criou o homem, ele disse que sua criação era "muito boa" (Gênesis 1:31). Então, o homem e a mulher eram perfeitamente bonitos e elegantes. Não tinham falha nem mácula. Mas é esse o ponto principal de Gênesis 2:25? Eu duvido. Por três razões.
Não Por Causa de Corpos Perfeitos
Primeiro, não importa quão bonito e elegante seu cônjuge é, se você é mal-humorado, egoísta ou cruel, você pode fazer comentários de um jeito que envergonhe a outra pessoa. Não estar envergonhado em um casamento requer mais do que ser fisicamente perfeito; quem está olhando para você tem que ser moralmente correto e gracioso.
Segundo, Gênesis 2:24-25 tem a intenção de dar sabedoria fundamental para o casamento muito depois da queda do homem no pecado. Podemos ver isso pelo jeito que Jesus usa o verso 24. Então, não me parece que o ponto principal apenas se relacionaria a situação antes da queda, a saber, a perfeição dos corpos.
Terceiro, verso 24 cria o relacionamento onde o verso 25 pode acontecer. E a ênfase está no compromisso de aliança. Esses dois estão se unindo em uma união de uma só carne que não é um experimento. É uma nova união de compromisso. Isso é o que cria o contexto para um casamento livre de vergonha — não sua beleza perfeita.
Por Causa do Amor de Aliança
Então, considere uma segunda possibilidade pela qual eles estão nus e não se envergonham. Minha sugestão é que a ênfase não está na liberdade da imperfeição física, mas na plenitude do amor de aliança. Em outras palavras, eu posso estar livre da vergonha por duas razões. Uma é que eu sou perfeito e não tenho do que me envergonhar, e a outra é que eu sou imperfeito, mas eu não tenho medo de ser desaprovado pelo meu cônjuge. O primeiro jeito de ser livre de vergonha é ser perfeito; o segundo jeito de ser livre da vergonha é baseado na natureza graciosa do amor de aliança. No primeiro caso, não há vergonha porque somos infalíveis. No segundo caso, não há vergonha porque o amor de aliança cobre uma multidão de falhas. (1 Pedro 4:8; 1 Coríntios 13:5).
Eu sei que em Gênesis 2:25 a queda no pecado ainda não aconteceu. Então, não existem falhas a serem cobertas. Mas, meu ponto é que o verso 25 flui do verso 24 porque o relacionamento de aliança estabelecido pelo casamento é projetado desde o início para ser a fundação principal da liberdade da vergonha. De comum acordo, até que o pecado viesse no mundo, e todos os tipos de falhas vieram junto, Adão e Eva não tinham exercitado seu amor de aliança para cobrir algum pecado e falhas um do outro. Mas aquele era o projeto de Deus. O casamento foi projetado desde o início para mostrar Cristo e a igreja, e a essência da nova aliança é que Cristo perdoa os pecados da sua noiva. Sua noiva é livre da vergonha não porque ela é perfeita, mas porque ela não tem medo de que o noivo irá condená-la ou envergonhá-la por causa de algum pecado dela. Esse é o motivo de a doutrina da justificação estar bem no coração do que faz o casamento funcionar. Isso cria paz com Deus verticalmente, apesar do nosso pecado. E quando experimentado horizontalmente, cria paz livre de vergonha entre um homem imperfeito e uma mulher imperfeita. Eu espero abordar mais disso semana que vem.
Declarando Independência
Mas primeiro nós precisamos terminar de olhar o que esse texto tem a dizer sobre nudez e vergonha. Em Gênesis 2:17, Deus disse a Adão: "mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás." Eu considero o "conhecimento do bem e do mal" como referência a um status de independência de Deus em que Adão e Eva decidiriam por si mesmos, à parte de Deus, sobre o que era bom e o que era mau. Assim, comer daquela árvore significava uma declaração de independência de Deus.
Em Gênesis 3:5-6, isto é o que acontece:
[O tentador diz:] " Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal." Então, quando a mulher viu que aquela árvore era boa para comer, agradável aos olhos e que era para desejável para tornar alguém sábio, pegou do fruto e comeu, e ela também deu uma parte para seu marido, que estava com ela, e ele comeu.
O primeiro efeito desta rebelião contra Deus e esta declaração de independência é lembrada no verso 7: "Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si." O que isso significa?
De repente, eles estão conscientes a respeito de seus corpos. Antes da rebelião contra Deus não havia vergonha. Agora, evidentemente, existe vergonha. Por quê? Não há razão de pensar que era porque de repente eles se tornaram feios. Não é o foco do texto. Sua beleza não foi o foco em Gênesis 2:25, e sua feiura não é o foco aqui em 3:7. Por que, então, a vergonha? Porque a fundação do amor que mantém a aliança entrou em colapso. E com isso, a doce e totalmente confiante segurança do casamento desapareceu para sempre.
A Fundação do Amor que Mantém a Aliança
A fundação do amor que mantém a aliança entre um homem e uma mulher é a aliança não quebrada entre eles e Deus — Deus os governando para seu bem e eles apreciando-O nessa segurança e confiando nele. Quando eles comeram da árvore do conhecimento do bem e do mal, a aliança foi quebrada e a fundação da manutenção de sua aliança entrou em colapso.
Eles experimentaram isso imediatamente na corrupção de seu amor de aliança um pelo outro. Isso aconteceu de duas formas. E nós experimentamos isso hoje nessas mesmas duas formas. E ambas estão relacionadas à experiência da vergonha. No primeiro caso, quem está vendo a minha nudez não é mais digno de confiança; então estou com medo de que serei envergonhado. No segundo caso, eu mesmo não estou mais em paz com Deus, mas eu me sinto culpado, sujo e indigno — eu mereço ser envergonhado. Pense sobre isto por um tempo.
Vulnerabilidade À Vergonha
No primeiro caso, estou consciente de meu corpo e sinto-me vulnerável à vergonha porque sei que Eva tem escolhido ser independente de Deus. Ela tem feito de si mesma central no lugar de Deus. Ela é essencialmente uma pessoa egoísta. Desse dia em diante, ela vai se colocar em primeiro e os outros por último. Não é mais uma serva. Então, ela não é confiável. E eu sinto-me vulnerável ao redor dela, porque ela é do tipo que me coloca para baixo se isto a colocar para cima. Então, de repente, minha nudez é precária. Eu não confio nela mais para me amar com o amor puro que mantém a aliança. Isto é uma fonte de vergonha e auto-consciência.
A Aliança Quebrada com Deus
A outra fonte é que Adão mesmo, não apenas sua esposa, quebrou a aliança com Deus. Se ela é rebelde, egoísta e, portanto, insegura, eu também. Mas o modo que experimento isso em mim é que eu me sinto sujo, culpado e indigno. Isso está de fato o que eu sou. Antes da queda, o que é e o que deveria ser eram a mesma coisa. Mas, agora o que é e o que deveria ser não são a mesma coisa. Eu deveria ser humilde e alegremente obediente a Deus. Mas não sou. A diferença entre o que eu sou e o que eu deveria ser colore tudo a respeito de mim — incluindo como me sinto sobre meu corpo. Então minha esposa pode ser a pessoa mais confiável do mundo, mas agora meu próprio senso de culpa e indignidade me faz sentir vulnerável. A nudez simples e aberta da inocência agora parece inconsistente com a pessoa culpada que eu sou. Sinto-me envergonhado.
Então, a vergonha da nudez se levanta de duas fontes e ambas se devem ao colapso da fundação do amor de aliança no nosso relacionamento com Deus. Uma é que Eva não é mais confiável para me apreciar; ela se tornou egoísta e eu me sinto vulnerável de que ela vá me colocar para baixo por causa de seu próprio egoísmo. A outra é que eu já sei que sou culpado e a nudez da inocência contradiz minha indignidade — eu me sinto envergonhado disso.
Eles Mesmos se Vestiram
Gênesis 3:7 diz que eles tentaram enfrentar essa situação se vestindo: "Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si." Então em Gênesis 3:21, Deus fez roupas melhores para eles da pele de animais: "Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu." O que podemos aprender?
O esforço de Adão e Eva de se vestirem por si mesmos era um esforço egoísta de esconder o que tinha realmente acontecido. Eles foram e tentaram se esconder de Deus (Gênesis 3:8). Eles não eram mais inocentes, porém eram rebeldes contra Deus. Sua nudez era muito reveladora e muito vulnerável. Eles tentaram fechar a lacuna entre o que eles eram e o que eles deveriam ser cobrindo o que eram e apresentando-se de um novo modo. Do ponto de vista deles, isso era a origem da hipocrisia. E foi a primeira tentativa — totalmente sem sucesso — de tapar o sol com a peneira.
Então Deus Os Vestiu
Então, o que significa que Deus os vestiu com peles de animais? Estava ele confirmando a hipocrisia? Estava ele ajudando-os a fazer algo ilícito? Se eles estavam nus e livres de vergonha antes da queda, e se colocaram roupas para minimizar a vergonha depois da queda, então o que Deus está fazendo ao vesti-los até melhor do que eles mesmos poderiam? Eu penso que a resposta é que ele estava fazendo algo com uma mensagem negativa e algo com uma mensagem positiva.
Negativamente, ele está dizendo: Vocês não são mais quem vocês eram nem o que deveriam ser. O hiato entre o que vocês são e o que deveriam ser é enorme. Cobrir-se com roupas é uma resposta certa — não para esconder isso, mas sim para confessar isto. Daqui em diante, vocês vestirão roupas, não para esconder o que deveriam ser, mas para confessar que vocês não são o que deveriam ser. Uma implicação prática disso é que nudez pública hoje não é um retorno a inocência, mas rebelião contra a realidade moral. Deus ordena roupas para testemunhar a glória que perdemos, e é rebelião adicional jogá-las fora.
E para aqueles que se rebelam em outra direção e fazem das suas roupas um meio de poder, prestígio e de chamar atenção, a resposta de Deus não é um retorno a nudez, mas um retorno a simplicidade (1 Timóteo 2:9-10; 1 Pedro 3:4-5). Roupas não foram feitas para as pessoas pensarem sobre o que está debaixo delas. Roupas foram feitas para dirigir atenção para o que não está debaixo delas. Braços e mãos que servem outros em nome de Cristo, pés "formosos" que levam o evangelho onde é necessário e o brilho de uma face que tem contemplado a glória de Jesus.
O Significado de Vestir
Agora nós já passamos pelo significado mais positivo de vestir que Deus tinha em mente quando ele vestiu Adão e Eva com peles de animais. Isso não era apenas um testemunho da glória que foi perdida e uma confissão que não somos o que deveríamos ser, porém isso também é um testemunho de que Deus mesmo faria de nós, um dia, o que deveríamos ser. Deus rejeitou o vestir-se próprio deles. Então, ele mesmo o fez. Ele mostrou misericórdia com roupas melhores. Junto com outros sinais esperançosos no contexto (como a derrota da serpente em 3:15), a misericórdia de Deus aponta para o dia em que ele vai resolver o problema da vergonha deles decisiva e permanentemente. Ele o fará com o sangue do seu próprio filho (como aparentemente foi derramado sangue pela morte dos animais das peles). E ele vai fazer isso com roupas de justiça e o esplendor de sua glória (Gálatas 3:27; Filipenses 3:21).
Isso significa que nossas roupas são um testemunho tanto para a nossa falha do passada e presente, quanto para a nossa glória futura. Elas testificam o hiato entre o que somos e o que deveríamos ser. E elas testificam da intenção misericordiosa de Deus de fazer uma ponte para esse hiato por meio de Jesus Cristo e sua morte pelos nossos pecados. Ele vai resolver o problema do medo, orgulho, egoísmo e vergonha entre homem e mulher com sua aliança comprada pelo sangue.
Casamento É Uma Vitrine Do Evangelho
O casamento foi feito para ser uma exposição dessa aliança e do evangelho. Portanto, o que vamos ver na próxima vez, se Deus quiser, é como o marido e a esposa incorporam o evangelho da nova aliança da justificação pela fé e então criam um novo seguro e sagrado lugar onde pode ser dito novamente: o homem e sua mulher estavam nus e não se envergonhavam.
Fonte: Desejando Deus
Autor: John Piper
Autor: John Piper