Quão Longe é Muito Longe?

Num momento ou outro, todo mundo já fez ou precisou responder as seguintes perguntas: Quando se trata do componente físico de um relacionamento de namoro, quão longe é muito longe? Podemos dar as mãos? Podemos beijar? Podemos ir além de um beijo? Deveríamos explorar o relacionamento físico um pouco mais, a fim de nos assegurar que somos compatíveis?

Estou acostumado a dar a resposta fácil: “Não é quão longe podemos ir, mas quão santos podemos ser. Você está fazendo todas as perguntas erradas!”. Isso pode me fazer sentir inteligente e um tanto piedoso, mas não é uma resposta exatamente satisfatória ou útil.

Em seu livro Sex, Dating, and Relationships: A Fresh Approach [Sexo, namoro e relacionamentos: uma nova abordagem], Gerald Hiestand e Jay Thomas oferecem uma resposta. Eles estão cientes da longa história de respostas legalistas e muitas abordagens falaciosas e baseadas no medo, que têm mais a ver com evitar doenças sexualmente transmissíveis e gravidez não planejadas do que buscar a santidade. Eles não querem criar uma nova lei, mas extrair uma implicação do significado mais profundo do casamento. Eles estão convencidos que a Bíblia nos oferece exatamente a resposta que estamos procurando. Quão longe é muito longe? “Contrário à opinião popular, a Bíblia fala com clareza — clareza objetiva — sobre o que é fisicamente apropriado entre um homem e mulher não casados num relacionamento pré-marital.”


Eles fundamentam sua resposta sobre o fato que o relacionamento marital e, portanto, o relacionamento sexual, tem o propósito de ser um retrato do relacionamento de Cristo e sua igreja. Dessa forma eles começam não com a Lei, mas com o Evangelho.

Os autores dizem que existem três categorias de relacionamentos homem-mulher criados por Deus e creem que “entender essas categorias distintas é a chave para sobrepujar grande parte da subjetividade ao redor do decoro sexual, ajudando-nos a construir limites adequados de expressão sexual”.

O Relacionamento Familiar. As diretrizes de Deus para a expressão sexual entre parentes de sangue evoluíram ao longo do tempo. Os filhos de Adão não tiveram escolha senão ter relacionamento sexual com uma irmã, mas quando Deus deu a lei do Antigo Testamento ele proibiu qualquer tipo de relacionamento incestuoso. Embora as razões para a proibição de Deus não sejam claras para nós, o mandamento é: “nenhuma atividade sexual deve ocorrer entre parentes de sangue”.

O Relacionamento Marital. Uma segunda categoria de relacionamento homem-mulher é o relacionamento marital e aqui Deus ordena que deve haver relações sexuais (veja 1 Coríntios 7.3-5). Há pelo menos duas razões: um relacionamento sexual saudável guarda-nos contra a infidelidade e, mais importante, “a unidade física que resulta do sexo entre um marido e sua esposa é uma imagem da unidade espiritual que resulta da nossa união com Cristo”. Sexo é um componente necessário do significado mais profundo do relacionamento marital.

O Relacionamento com o Próximo. Uma terceira categoria de relacionamento é o relacionamento com o próximo. Essa categoria usa o termo “próximo” como Jesus o fez, incluindo todos aqueles que não são parentes de sangue nem cônjuge. “E é aqui que a Bíblia resolve para nós muita da ambiguidade com respeito à pureza sexual entre homens e mulheres não casados”. Os autores olham para 1 Coríntios 7.7-9 a fim de mostrar como Paulo declara sem ambiguidade que “o relacionamento marital é o único contexto legítimo para as relações sexuais” pois se uma pessoa tem forte desejo sexual, ele ou ela deve se casar, em vez de sucumbir ao pecado. “O que é claramente declarado aqui nesta passagem é o padrão assumido para decoro sexual visto ao longo de todo o Antigo e Novo Testamento. Dessa forma, a perspectiva da Bíblia sobre pureza sexual dentro do relacionamento com o próximo pode ser detalhada da seguinte forma: as relações sexuais são proibidas”.

Até aqui penso que a maioria de nós concordaria. A Bíblia ensina que deve haver relações sexuais entre um marido e sua esposa e que não deve haver relações sexuais entre ninguém, exceto um marido e sua esposa.

Mas uma pergunta permanece: o que constitui relações sexuais? O que exatamente um namorado e sua namorada ou um casal de noivos pode fazer nesse estado pré-marital? Os autores dizem: “Com muita frequência limitamos nosso entendimento de relações sexuais a apenas intercurso sexual. Mas tal entendimento limitado de relações sexuais é legítimo?”.

Há pouca dúvida que algumas atividades constituem atividade sexual. Uma vez que as roupas são removidas e os órgãos genitais são acariciados, é claro que entramos na esfera da atividade sexual e, portanto, além do que é aceitável fora do casamento. Mas o que dizer sobre um beijo? Não é isso realmente o que os casais cristãos querem saber? Eles querem saber se podem beijar. E se puderem beijar realmente, se podem beijar apaixonadamente. “Responder a pergunta sobre o beijo não é tão difícil quanto alguém poderia pensar. Claramente algumas formas de beijo não são sexuais; nós beijamos nossos filhos e nossas mães. Mas há algumas formas de beijo que reservamos exclusivamente para as nossas esposas. E a razão pela qual fazemos isso é precisamente porque essas formas de beijo são sexuais”.

Considerar uma atividade no contexto da relação familiar é imensamente útil no esclarecimento de quase toda a confusão ao redor da questão “Quão longe é muito longe?”. Se um homem não se sente confortável de realizar uma ação particular com sua irmã porque fazê-lo seria sexualmente inapropriado, então essa ação é de natureza sexual e deve ser reservada para o relacionamento marital.

Dessa forma, beijar apaixonadamente, o tipo de beijo claramente inapropriado entre um irmão e irmã, deveria ser reservado para o casamento. 1 Timóteo 5.2 aparece para fortalecer o argumento dos autores, pois apresenta explicitamente “o tratamento familiar do sexo oposto com pureza absoluta”, instruindo Timóteo a tratar “as mulheres mais velhas como mães, e as mulheres mais novas como irmãs, em toda pureza”. Em outras palavras, Paulo manda que Timóteo trate as mulheres que não são sua esposa da mesma forma que ele trataria sua própria irmã. Você beijaria a sua irmã no rosto ao dizer tchau? Então beije a sua namorada no rosto quando for dizer tchau. Você daria em sua irmã um beijo longo e apaixonado antes de ir embora? Sem dúvida não! Portanto, tão pouco faça isso com a sua namorada.

Onde muitas pessoas erram hoje é ao criar uma categoria que se encaixa entre o relacionamento com o próximo e o relacionamento marital e isso é exatamente onde os autores desafiam o leitor.

“Quando estamos falando sobre Deus, todas as pessoas não casadas estão obrigadas a seguir os padrões de pureza que ele definiu no relacionamento com o próximo... Não temos a sanção de inventar uma nova categoria de relacionamento homem-mulher, apenas para nos retirarmos das diretrizes de Deus no processo". Se ela não é a sua esposa e não é um parente de sangue, ela é sua próxima. Se ele não é seu marido e não é um parente de sangue, ele é seu próximo e precisa ser tratado como tal.

Resumindo:

  1. As relações sexuais estão reservadas ao relacionamento marital.
  2. Existem relações sexuais além do mero intercurso sexual.
  3. Qualquer atividade que seja de natureza sexual deve ser reservada para o relacionamento marital.
  4. Algumas formas de beijo são de natureza sexual.
  5. Formas sexuais de beijo devem ser reservadas para o relacionamento marital.

À medida que considerava a perspectiva dos autores, percebi a mudança da minha perspectiva sobre esse assunto. Quando era um jovem buscando uma esposa, eu queria permissão. Queria me convencer que poderia ir muito além do que minha consciência permitia. Agora que sou um pouco mais velho e tenho filhos que estão caminhando para a idade quando começarão a formar relacionamentos, estou muito ansioso para adotar uma posição como essa (e, mais urgentemente, que meus filhos a adotem!). Continuo a refletir sobre isso, mas inicialmente achei essa posição coerente com os princípios bíblicos e gosto dela lidar com a verdade bíblica objetiva, em vez de se fiar em normas culturais ou preferências pessoais.

Fonte: Monergismo
Autor: Tim Challies