Reconquistando seu cérebro de volta da pornografia

No artigo anterior, eu escrevi sobre a dimensão fisiológica do vício em pornografia. Uma nova pesquisa neurológica sugere que ela é tão poderosa quanto o vício em cocaína e heroína devido a singular combinação de estimulante e relaxante. A pornografia imprime verdadeiros caminhos fisiológicos no cérebro. Toda a experiência sexual tende a migrar para esses caminhos.

Eu concluí dizendo que nenhuma dessas pesquisas neurológicas surpreende Deus. Ele estruturou a interconexão entre o cérebro e a alma. Descobertas sobre as conexões entre a realidade física e a espiritual não anulam tais realidades.

Não tome parte na abolição do homem

Não permita que essa nova pesquisa neurológica faça com que você veja a si mesmo somente como carne e reações químicas. Este é o grande mito do mundo moderno – o que C.S. Lewis chamava de a abolição do homem. Essa é a teoria de que o pensamento humano é nada mais que movimentos no cérebro. É uma teoria desenvolvida para destruir a si mesma.

Lewis percebeu os tentáculos do materialismo alcançando cada esfera:

Sempre haverá evidências, e todo mês novas evidências, para mostrar que a religião é apenas psicológica; a justiça, apenas autoproteção; a política, apenas economia; o amor, apenas sensualidade; e o próprio pensamento, apenas bioquímica cerebral. (LEWIS, C.S. O peso de glória, (São Paulo: Vida, 2008), 111-112)
Mas Lewis percebeu que ninguém realmente age como se cresse nisto. Eles estão jogando um jogo de linguagem. Ele ilustra isso com a relação entre o pensamento e o cérebro:
Estamos certos de que nesta vida, de qualquer forma, o pensamento está intimamente ligado ao cérebro. A teoria de que o pensamento é, portanto, meramente um movimento no cérebro é desprovida de sentido, em minha opinião, pois, se assim fosse, a própria teoria seria meramente um movimento, um acontecimento entre átomos, que pode ter velocidade e direção, mas para o qual não teria nenhum sentido usar as palavras “verdadeiro” e “falso”. (LEWIS, C.S. O peso de glória, (São Paulo: Vida, 2008), 102)
Lewis não está fazendo um jogo de inversão. Ele está convicto de que os que apoiam a abolição do homem estão se recusando a enxergar que enquanto fazem suas declarações, cheias de significado, destroem o significado em si.

Tome as rédeas da conexão mente-corpo

O significado está enraizado em verdade supramaterial. Você não é mera matéria e energia. Você é uma alma num corpo que viverá para sempre no céu ou no inferno, criado à imagem de Deus, diferente de meros animais, e, enquanto cristão, comprado com o sangue do Filho de Deus e habitado pelo próprio Espírito de Deus. Existem realidades estupendas – realidades maiores do que endorfinas e dopaminas.

Deus uniu nervos físicos e afeições espirituais suprafísicas – desejo, medo, alegria, raiva, pena, admiração, confiança, carinho, amor. Ao invés de deixar esta conexão o desencorajar, tome as rédeas dela e faça-a servir a sua santidade. É isto que a Bíblia o chama a fazer.

Não pense que a Bíblia está em silêncio nesta importante questão sobre a mente e o corpo – pensamentos e cérebro, afeições e química. Deus fez estas conexões entre o físico e o suprafísico e Deus possui a sabedoria para se viver em ambas.

Considere estas quatro observações cheias de esperança.

1. Renovação profunda, incluindo seu cérebro.

A neurologia é uma ciência recém-nascida, publicando seus primeiros passos. Ela mal começou a nomear os mistérios de como verdade e beleza são medidas por meio da linguagem, daí adentram o cérebro como pensamento e por fim são transpostos para os processos químicos correspondentes.

Por essa razão devemos nos apossar desta maravilhosa conexão e afirmar o que a Bíblia afirma: Contemplando a glória do Senhor estamos sendo transformados (2 Coríntios 3.18). Claro que ver nudez muda o cérebro. Mas por que deveríamos pensar que ver a glória de Deus exerceria uma mudança menor? Se trilhas neurológicas pervertem nossas afeições e nosso comportamento, não cometa o enorme engano de acreditar que a santificação pode marcar caminhos com menos eficácia.

Paulo chama você a ser renovado “no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.” (Efésios 4.23,24 NVI). Tenha cuidado, para que você não acredite que a renovação “no modo de pensar” não imprima caminhos no cérebro. Ela o faz. Paulo afirma, “E vos vestistes do novo [homem], que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;” (Colossenses 3.10). Se ver pornografia na internet cria novos caminhos no cérebro, quanto mais ver a Cristo – a visão espiritual “do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” (2 Coríntios 4.4). Nós não fomos abandonados para criar novos cérebros por nós mesmos: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus” (Efésios 2.10). Não seja intimidado por pesquisas sobre o cérebro. Deus fez o cérebro e escreveu o Livro.

2. Cristo ensanguentado, cheiros ruins e ursos.

Além disso, sabemos por experiência que não somos escravos dessas poderosas mudanças pornográficas em nossos cérebros. Eu não as diminuo. Julgando pelos efeitos, mesmo estando na casa dos sessenta, da minha tolice adolescente, eu tenho experimentado o poderoso poder de fixação de antigos padrões pecaminosos. Mas não somos cavalos ou mulas que são guiados somente por meio de cabresto e freio (Salmo 32.9)

Você sabe disso. Se você estivesse sendo arrastado por um grande desejo sexual para pornografia, e Jesus em pessoa estivesse em pé na sua frente no seu quarto, coberto de sangue, mãos trêmulas de dor, olhos brilhando de amor, respirando pesado como um homem prestes a morrer, você sabe – sim, você sabe – que teria a capacidade naquele momento de não olhar para pornografia enquanto Jesus estivesse ali em pé. Você não está escravizado. Os caminhos neurológicos “bem pavimentados” no seu cérebro não venceriam. Eles não são Deus. Eles não têm a última palavra.

Ou apenas no nível físico, você sabe por experiência que um mero odor – digamos de fezes humanas ou lixo apodrecido ou de suas próprias axilas podem derrubar seu apetite sexual. O que isto significa? Significa que os caminhos neurológicos não são definitivos. Eles podem ser interrompidos. Você não é uma simples vítima.

Ou considere isto. Você está prestes a cometer uma imoralidade sexual numa barraca no meio da floresta. Você nunca imaginou que chegaria a esse ponto, mas a onda de desejo simplesmente dominou você. Ou será que dominou? E se, no momento mais intenso de paixão, bem antes do ato em si, você ouvisse o barulho de um urso e visse sua silhueta enorme na lateral da barraca, você seria escravo do seu desejo? Ou o medo não triunfaria sobre essas reações químicas?

Cuidado para não pensar que você é uma vítima do efeito eufórico da dopamina e da endorfina. Você não é. Deus tem meios de revelar seu Cristo ensanguentado, fazê-lo tropeçar com cheiros ruins e ursos para resgatá-lo para si mesmo. Ele chegará a este nível por amor.

3. Satanás, sexo e reações químicas.

Emoções supraquímicas – afeições espirituais – são transpostas de forma a corresponder a respostas físicas no cérebro. Isso significa que você pode combater armas físicas com armas espirituais. Da mesma forma funciona o caminho inverso. Deus ordena que lutemos para dar fruto espiritual manejando armas fisiológicas com mãos espirituais.

Você já pensou sobre as implicações impactantes do conselho sexual de Paulo para derrotar Satanás em 1 Coríntios 7.5? Tenham cuidado os solteiros. Você pode pular para a conclusão de que isto é irrelevante para você ou má notícia. Mas não é. Paulo diz a maridos e esposas, que não privem um ao outro [de relações sexuais], a não ser por consentimento mútuo por algum tempo, para se aplicarem a oração; mas então devem se unir de novo, para que Satanás não tente você por sua falta de domínio próprio.

Isto implica que Paulo pretende que casais cristãos lutem contra o poder sobrenatural de Satanás tendo relações sexuais com frequência suficiente. Para estabelecer o ponto em termos fisiológicos: há substâncias químicas no cérebro que aumentam o desejo por sexo à medida que a abstinência aumenta. O poder dessas substâncias diminui depois do orgasmo. Então, Paulo diz, faça uso desta realidade fisiológica no casamento para reduzir sua vulnerabilidade às tentações de Satanás de adultério e pornografia.

Claro que esta não é a única ou a principal arma em nosso arsenal. Mas é uma delas. E ilustra a validade de usar armas fisiológicas contra inimigos fisiológicos. Os solteiros poderão dizer com razão, “Eu não tenho esta arma própria do casamento em meu arsenal”. É verdade. E eu o admiro por dizer isto. Mas aproprie-se do princípio da forma que se aplica a você. Existem realidades fisiológicas que você sabe que afetam sua vulnerabilidade para tentação. Use-as para fazer guerra.

4. O Espírito Santo, sono e domínio próprio.

Mas isso é espiritual? O domínio próprio não é um “fruto do Espírito”, ao invés de ser fruto de relações sexuais frequentes?

Esse é um fruto do Espírito (Gálatas 5.23), mas não “ao invés” de ser um fruto de outra natureza. A maneira do Espírito produzir seu fruto frequentemente inclui meios muito naturais. Por exemplo, outro fruto do Espírito é paciência (Gálatas 5.22). Mas qual de nós pode negar que nossa paciência aumenta ou diminui dependendo de quanto sono conseguimos ter? O amor, diz Paulo, é “paciente… não se ira facilmente” (1 Coríntios 13.4-5 NVI). Mas ficamos irados com mais facilidade e menos pacientes quando não conseguimos o descanso necessário.

O que quero inferir disto é que uma das muitas armas no arsenal do Espírito Santo é o sono. Este nos torna humildes para perceber que não somos Deus e que precisamos ficar tão indefesos quanto um bebê por sete a oito horas por dia, para que possamos ser a pessoa amável e paciente que Ele nos chama a ser.

É semelhante no domínio próprio sexual. O Espírito Santo nos ensina por meio das Escrituras, pelas experiências e uns dos outros, como nosso corpo funciona. Ele quer que nos apoiemos em seu poder enquanto fazemos uso das armas fisiológicas de contra-ataque que Ele nos dá.

Encontrando verdadeiro êxtase

A pesquisa neurológica está certa: nossos cérebros são profundamente afetados pelo que vemos. E quanto mais vemos, mais bem estabelecidos e controladores estes caminhos se tornam. Mas não somos suas vítimas. Esses poderes fisiológicos não tem a palavra final. Deus tem a palavra final. E ele nos deu armas espirituais tão poderosas, em termos fisiológicos, quanto à pornografia. Ele deseja ser visto por nós – frequente e profundamente (2 Coríntios 3.18; 4.4).

Além do mais, o poder espiritual de sua Palavra e do seu Espírito tem o direito de usar forças fisiológicas a seu serviço. E no fim, Deus pode reconquistar os caminhos cerebrais da pornografia e transpor esses pulsos para o verdadeiro êxtase de conhecer a Cristo.

Fonte: Voltemos ao Evangelho
Autor: John Piper